Aprosoja Brasil: Saiba como a “Máfia da Classificação”
prejudica produtores de soja

Compradores de grãos se valem da falta de atualização de uma Instrução Normativa do Ministério da Agricultura para praticar descontos abusivos sobre cargas de soja

Publicado em 28/08/2024 08:47

A Aprosoja se dedica nas últimas três décadas a atuar em aspectos do negócio dos produtores de soja que geram perdas de margem e fogem ao controle do sojicultor. Um destes aspectos diz respeito à forma como é feita a classificação de soja no Brasil. Em todo o país produtores tem reclamado da forma como seus grãos são classificados na entrega da produção e dos descontos aplicados pelas tradings, que pagam valores menores aos produtores. O sentimento de ter sido roubado é o mesmo de norte a sul do país.

Inicialmente, a qualidade da safra brasileira está dada quando a colhemos, não depende de uma norma. Contudo, preservar a sua qualidade é tarefa daqueles que farão a armazenagem e o escoamento para o processamento ou exportação. Portanto, a alteração da norma em nada impacta na qualidade da safra, mas nos critérios de sua classificação ou desclassificação.

A Aprosoja Brasil se esmerou em colocar na agenda de revisão regulatória do Ministério da Agricultura (Mapa) a alteração da norma de classificação de soja grão, a Instrução Normativa n° 11 de 2007 (IN n° 11/2007). O motivo: o Brasil ainda usa critérios que dão margem a interpretações erradas, permitindo que uma soja boa para a indústria seja considerada imprópria e receba descontos que chegam a 100%¨de seu valor de mercado. Destacamos que neste processo, tradings e cooperativas se posicionaram contra a mudança da norma, justificando que ela já atende a necessidade da cadeia produtiva.

Pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Mato Grosso demonstraram que mesmo soja com alto percentual de grãos ardidos, de acordo com os conceitos atuais da IN n° 11/2007, não prejudicaram a qualidade da ração para frangos, ovinos e suínos, com manutenção da saúde dos animais e da qualidade da carne produzida.

Após justificar a necessidade de atualização da norma, a Aprosoja e demais entidades representativas dos produtores trabalharam
tecnicamente sobre o tema. Do ponto de vista de conceitos, procedimentos e critérios de classificação, a norma ficou muito mais moderna e alinhada ao que se faz ao redor do mundo.


Umidade do grão

No que tange à umidade do grão de soja para o armazenamento, porém, houve uma controvérsia com a equipe técnica do Mapa. Atualmente, os EUA e a China exigem umidade de 13%, enquanto a Argentina exige 13,5% e o Brasil 14%. Mas apesar do clima tropical e da elevada umidade no período da colheita da safra brasileira, o Ministério passou a defender, com base na recomendação da academia, a necessidade de atualização da umidade para 13% como ideal para preservar o grão.

O impasse, porém, não estava na umidade, mas no prejuízo para os agricultores, já que ao entregar uma soja com 14% ele não receberia da trading nenhum desconto. No entanto, com o estabelecimento do percentual de umidade para 13%, o desconto aplicado ficaria entre 1,5% e mais de 5%, a depender da trading.

Além disso, é do conhecimento de quem lida com a soja que é praticamente impossível secar todo grão após a entrega do produto na empresa compradora. A umidade permanece elevada e vai baixando ao longo do caminho até chegar aos portos ou à indústria. Diga-se de passagem, atualmente toda a soja já chega com 13% ou menos de umidade nos portos.

Para corrigir excessos por parte das tradings, teve início um debate para mudar desta regra. A minuta de alteração da IN trazia possibilidade de haver ágio e deságio da umidade na carga de soja entregue. Porém, a redação foi considerada inadequada sob a alegação de que não seria competência do Mapa arbitrar este impasse. Durante discussão do texto, as entidades de produtores ficaram contra a alteração para 13%, já que significaria mais prejuízo aos agricultores.

O desfecho esperado era o Mapa publicar a norma com as alterações dos conceitos e manutenção da umidade de 14%. Porém, em audiência pública requerida pelo deputado federal Sérgio Souza na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Capadr) no final de 2023, o jogo virou. Apesar dos apelos das entidades para publicar a norma, a Comissão enviou solicitação ao Mapa para que publicação fosse adiada. E desde então o tema não avançou.

Como não há mais espaço para negociação com as tradings e cooperativas, que desde o início se posicionaram contra a atualização da norma, fica claro que eles saíram como os grandes vencedores.

Portanto, é preciso que a Câmara dos Deputados e o Mapa se alinhem para que seja publicada a nova IN. Não podemos permitir que todo o esforço de atualização da norma feito pelos técnicos do Ministério da Agricultura e das entidades que participaram do processo desça pelo ralo. Vamos continuar permitindo que os produtores sejam roubados graças aos velhos critérios presentes na IN n° 11/2007?

Aprosoja Brasil


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Fonte: noticiasagricolas.com.br

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